quinta-feira, 19 de maio de 2011

SHOW DE PLANETAS NAS MADRUGADAS DE MAIO :::

http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2011-05-01_2011-05-07.html#2011_05-02_21_12_52-7000670-0

::: DE PEDRINHAS A PEDRONAS QUE VÊM DO ESPAÇO :::

SpaceWeather - Antal Igaz e Istvan Tepliczky

Meteoro registrado em 11 de agosto de 2009 na Hungria

Duas notícias ligadas à Astronomia estão bombando na mídia hoje.

E é sobre elas que quero falar neste post. Ambas estão ligadas à "rochas" (ou fragmentos de matéria) que vêm do espaço.

1. Eta Aquarídeas: fragmentos do cometa Halley

Todo dia, pequenos fragmentos de matéria são atraídos pela gravidade terrestre. São pedaços de matéria que, em média, vão do tamanho de grãos de areia até pequenas pedras. Eventualmente podem ser maiores.

A maioria deles nem chega a cair, ou seja, não atinge a superfície do planeta. É que eles já têm velocidades altas. E a gravidade da Terra os acelera ainda mais. Com o atrito com a atmosfera, por fricção com as partículas de ar, há superaquecimento deste material que literalmente vaporiza-se deixando um rastro luminoso que à noite chama a atenção contra o fundo negro do céu. É mais comum a matéria sofrer queima integral e não sobrar nada que possa cair em solo. Entendeu? Esse fenômeno é conhecido como meteoro. Se o fragmento de matéria é um pouco maior, grande o suficiente para queimar mas sobrar algo que possa chegar ao chão, essa rocha chamuscada que cai na superfície do planeta é chamada de meteorito.

Se o meteoro ocorre de dia, contra o céu claro e azul, é imperceptível. Mas à noite é sempre um evento bonito de se observar, especialmente em locais bem escuros, longe das luzes da cidade.

Mas esperar um meteoro ao longo de uma noite pode ser frustrante. Você pode estar olhando para um local onde nada vai acontecer. Mas existem certos dias do ano em que os meteoros aumentam significativamente, podendo atingir uma taxa de 50 ou até 100 por hora. E, nestes dias, podemos saber de onde eles virão, ou seja, sabemos para onde olhar. Nestes casos, vale a pena sentar e ficar esperando. A chance de observação é muito grande. Estes eventos astronômicos são chamados de Chuvas de Meteoro.

Chuvas de Meteoro são quase sempre associadas à passagem de um cometa. É que toda vez que um cometa se aproxima do Sol, sofre aquecimento e libera fragmentos de matéria que vão ficando soltos no espaço. Se estes fragmentos são libertos em pontos próximos da órbita da Terra ao redor do Sol, sempre que o nosso planeta passar por lá, uma vez por ano, sempre na mesma data, fará um efeito de vassoura, varrendo estes fragmentos. Quem faz isso na verdade é a gravidade do planeta que atrai estes pedaços de matéria que podem acabar penetrando na atmosfera planetária provocando o efeito de meteoro, só que com dia e hora marcadas para acontecer.

A tabela abaixo mostra as principais Chuvas de Meteoros e o dia em que ocorre o seu pico máximo. Note que hoje é o pico da Eta Aquarídeas ligada à última passagem do cometa Halley em 1986.

Segundo a NASA, na próxima madrugada podemos ter uma taxa de até 40 meteoros/hora, ou seja, um pedacinho de Halley a cada 1,5 min queimando no céu. E eles virão da região da constelação de Aquário que aqui no Brasil, nesta época do ano, começa a nascer praticamente à leste e por volta das 2h da madrugada. Em torno de 3h a constelação já estará inteira acima do horizonte. Se ficarmos olhando para esta região, mais ou menos a região onde o Sol nasce, pouco acima do horizonte, teremos enorme chance de observarmos fragmentos de matéria queimando na atmosfera.

A imagem abaixo serve de guia de observação pois mostra a constelação de Aquário e o Radiante da Eta Aquarídeas, ou seja, o ponto de onde os meteoros parecem vir. Na verdade o Radiante é uma ilusão causada pela perspectiva. Mas é o melhor ponto para olharmos durante chuva de meteoros.

NASA (traduzido)

Veja abaixo um vídeo da NASA (narrado e legendado em inglês) falando sobre a Eta Aquarídeas.

Os links abaixo trazem um mesmo vídeo de um meteoro de Eta Aquarídeas de 2009. Você escolhe a versão que preferir de acordo com o player que tiver instalado no seu micro:

Se resolver madrugar para ver a Chuva de Meteoros, aproveite para observar também os planetas Marte, Júpiter, Mercúrio e Vênus que estão bem visíveis antes do amanhecer ao longo de todo o mês de maio (veja o post logo abaixo com mais detalhes e dicas de observação).

2. Asteróide vai "passar perto da Terra em novembro


Asteróide 2005 YU 55, com cerca de 400 m de diâmetro

A NASA sabe que objetos espaciais com diâmetro de dezenas e até centenas de metros, os chamados asteróides, se forem atraídos pela Terra, vão queimar na atmosfera produzindo um belíssimo efeito de meteoro. Mas, com tanta matéria, certamente ainda sobrará uma enorme rocha para colidir com o planeta. E aí, o que começou com um belíssimo espetáculo, pode terminar numa catástrofe que pode atingir uma grande região do planeta e, em casos mais graves, comprometer o planeta todo.

Em 1994 o cometa Shoemaker-Levi 9 caiu em Júpiter. Os astrônomos pela primeira vez na história descobriram que a colisão iria acontecer. E acompanharam tudo de camarote através de diversos telescópios. A imagem abaixo mostra o estrago na atmosfera do planeta gigante gasoso.


Mancha escura na parte superior de Júpiter: buraco que ficou por dias
na atmosfera do planeta com a queda de um dos fragmentos do cometa
Shoemaker-Levi 9

Um cometa pode ter alguns quilômetros de diâmetro. Imagine se a queda do Shoemaker-Levi 9 tivesse sido na Terra! Um objeto muito menor já causaria um estrago enorme!

Por isso mesmo a NASA mantém o NEO - Near Earth Objects, projeto de observação contínua que mantém uma equipe de astrônomos que varre o céu em busca de objetos que estão próximos da Terra o suficiente para apresentarem algum risco. E o NEO divulgou em 10 de março de 2011 que o asteróide 2005 YU 55, que tem cerca de 400 m de diâmetro e é quase esférico (veja foto acima) passará "perto da Terra", a apenas 85% da distância média Terra-Lua que é de 384000 km. Fazendo uma continha simples, o 2005 YU 55 vai passar a aproximadamente 326000 km do nosso planeta (0,85 X 384000 km). Astronomicamente falando, isso é bem peto. Mas já aconteceu antes com outros asteróides, sem nenhum risco para o nosso planeta, embora signifique que, se passou perto, um dia pode colidir. E aí a coisa muda de figura.

A imagem abaixo é uma simulação da órbita do asteróide 2005 YU 55 feita pelo pessoal do NEO. Clique para abrir versão maior.

Clique para ampliar e ver a animação
Clique para ver a animação com a simulação da órbita do asteróide

Clique aqui e veja a mesma imagem, agora de outro ângulo (com inclinação zero em relação ao plano da órbita da Terra ao redor do Sol), e desta vez estática, sem animação.

Não sei porque só hoje a mídia "acordou" para este fato. Mas a notícia foi espalhada pela agências internacionais e está bombando. Muita gente já me perguntou se o asteróide é perigoso.

Na internet você vai encontrar desde relatos científicos equilibrados até notícias sensacionalistas e com erros graves. É uma pena que ainda existam jornalistas (jornalistas?) que, para "vender" a notícia, têm que apelar. Encontrei uma matéria cujo título é "Asteróide gigantesco se aproxima da Terrra"! É mole? O 2005 YU 55 tem 400 m de diâmetro. Nosso planeta tem 12800 km de diâmetro (ou 12800000 m). Numa conta simples, a Terra tem diâmetro 32000 vezes maior do que o do asteróide (12800000 / 400 = 32000). Na mesma matéria há a alegação de que "se atingisse a Terra, o YU 55 exerceria uma força de 65000 bombas atômicas". Na verdade, o correto seria dizer que o asteróde carrega uma energia equivalente a 65000 bombas atômicas e não pode exercer uma força. Erro físico clássico! E ainda diz que o asteróide "pesa 55 milhões de toneladas" quando o que vale 55 milhões de toneladas é a sua massa e não o seu peso. O peso do asteróide (ou de qualquer objeto) depende da atração gravitacioanal que ele sofre. E isso varia dependendo do lugar onde ele está e da distância que ele guarda do corpo que o atrai. Outro erro clássico, mas que para um empresa de mídia de grande porte não faz sentido.

Como eu disse acima e ratifico, o problema de um asteróide está no fato de que tem bastante massa (m grande) e move-se rapidamente (grande velocidade V). Logo, carrega uma energia cinética EC = mv²/2 que pode, de fato, ter valores enormes. Em caso de colisão, essa energia é dissipada, e pode equivaler a centenas ou milhares de bombas atômicas.

Os cientistas do NEO observam os asteróides tentando descobrir como são as suas órbitas e, com bastante antecedência, tentam prever uma possível colisão com a Terra. Mas também estão criando programas para tentar desviar asteróides perigosos evitando que se choquem com o nosso planeta no futuro. Dentre as ideias, existem estudos para o envio de projéteis que atingiriam um asteróide desviando-o da rota de colisão com a Terra. A NASA já têm feito experimentos de colisão de projéteis com astros que, ao mesmo tempo em que possuem intenção científica, também já estão testando esta tecnologia (veja aqui e aqui também) . Há ainda estudos para enviar bombas potentes para quebrar um asteróide, embora alguns cientistas defendam que isso poderia apenas fragmentar o problema e, em vez de um grande impacto de um úncio corpo grande batendo na Terra, teríamos uma chuva perigosa de corpos menores contra o planeta causando estragos menores mas espalhados por toda a esfera planetária. Há ainda a ideia de se usar espelhos espaciais para concentrar a luz solar num asteróide criando um superaquecimento local que, através de jatos de matéria aquecida, funcionaria como um motor propulsor capaz de afastar o asteróide lateralmente evitando que colida com a Terra.

O perigo existe. Mas os cientistas estão avançando. Sabemos que um dia um asteróide com massa e velocidade para carregar bastante energia vai entrar em rota de colisão com a Terra, como suspeita-se que já tenha acontecido algumas vezes no passado do planeta. Mas agora podemos antever o problema e, quem sabe, criar mecanismos para evitar a colisão que poderia sim significar uma catástrofe local ou até mesmo em escala planetária.

Enquanto isso, fiquem tranquilos. O YU 55 vai passar "perto". Mas não representa perigo.


[Upgrade - sábado, 7 de maio de 2011 ~18h40min]

  • Confira aqui a contagem de meteoros feita pela NASA. Hoje a Terra ainda estará passando pela zona de detritos do Halley e, portanto, teremos Chuva de Meteoros na madrugada. Espetáculo menos intenso, mas teremos fireballs!
  • Veja também uma galeria de vídeos dos eventos da Eta Aquarideas em site da NASA com uma câmera que filma o céu todo. Escolha a data no menu da esquerda na página que vai se abrir e depois clique nos vídeos para vê-los.


Já publicado aqui no Física na Veia





Um forte abraço. E Física na Veia!
prof. Dulcidio Braz Júnior (@Dulcidio)
às 18h32







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::: SHOW DE PLANETAS NAS MADRUGADAS DE MAIO :::

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Simulação: Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter - 03/maio/11 ~5h30min

Deus ajuda quem cedo madruga e ainda presenteia com show de planetas!

Durante o mês de maio, quem gosta de observar o céu terá a chance de ver na madrugada, pouco antes do dia clarear, quatro planetas que vão aparecer do lado leste (E), onde o Sol nasce. Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter vão se destacar contra o fundo negro um pouco antes do dia clarear e bem perto do horizonte. Dentre os quatro, Vênus será o mais brilhante. Urano também vai estar "por ali" (clique na imagem acima para ampliar), mas bem mais difícil de ser encontrado. Mas Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter serão facilmente reconhecidos e sem a necessidade de qualquer instrumento, embora um binóculo ou uma luneta possam tornar a experiência ainda mais divertida.

A imagem acima, criada com o software Stellarium (freeware) mostra o céu para a região sudeste do Brasil para a próxima madrugada, por volta das 5h30min. Mas em outras regiões do território nacional o céu não será tão diferente e esta imagem serve bem como referência "média" para possíveis observações. Mas não custa nada baixar o Stellarium e tentar simular o céu exatamente para a sua latitude/longitude. Vale a pena!

Veja abaixo mais simulações para o céu nos próximos dias, sempre por volta das 5h30min.

04/05/2011

05/05/2011

06/05/2011

07/05/2011

08/05/2011

09/05/2011

10/05/2011

Até o final do mês você vai poder acompanhar este espetáculo do Sistema Solar. Em 28 de maio a Lua crescente, na configuração de apenas uma "casquinha", vai entrar na cena e ficar praticamente alinhada no céu com os quatro planetas, como mostra a simulação abaixo.

28/05/2011

Em julho de 2010 tivemos algo parecido, só que logo no começo da noite. Confira neste post os planetas Mercúrio, Vênus, Marte e Saturno que na época apareciam visualmente próximos no céu. Eu até fiz fotos deles!

Vou aproveitar a oportunidade e madrugar neste mês de maio para observar estes quatro planetas e, já que estarão "fazendo pose", tentar o registro fotográfico. Se conseguir bons resultados, publico por aqui. Aproveite você também. E deixe seu comentário.

:: Por que estes planetas parecem estar tão perto no céu?

Na verdade, os planetas não estão próximos. A aproximação é aparente, apenas do ponto de vista de quem está aqui na Terra.

A imagem abaixo mostra a posição real da Terra e dos planetas Mercúrio, Vênus, Marte e Júpiter por estes dias de maio em suas órbitas ao redor do Sol.


Simulação das posições planetárias reais para 2/05/2011

Note que, vistos da Terra, estes planetas (cujas órbitas estão praticamente no mesmo plano) estão dispostos quase na mesma linha de visada representada pelo traço branco, o que provoca a ilusão de estarem próximos do céu, embora na prática estejam bem afastados. Entendeu?


[Upgrade] - Fotografias (clique nas imagens para ampliá-las)

03/05/2011 ~ 5h39min

Céu muito limpo. Os quatro planetas, bem brilhantes, se destacavam, mesmo com a chegada da luz solar.

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04/05/2011 ~ 5h49min

Uma névoa baixa cobria a serra ao fundo e difundia as luzes alaranjadas da iluminação pública do bairro. Mas o céu estava limpo.

Note (especialmente na versão grande) como Marte saiu bem laranja na foto, exatamente como o vemos no céu, o que ratifica o seu apelido de "planeta vermelho".

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